23 fevereiro 2007 
















Zeca Afonso

 

.... mas pra conseguir é preciso sonhar








Circula na net, há já algum tempo, uma "Entrevista dada ao Jornal O GLOBO por Marcola, o líder do PCC. Colunista: Ronaldo Jabor"
(Marcola é o chefe dos "gangs" brasileiros que puseram S. Paulo a ferro e fogo).

A entrevista é uma ficção da autoria de Arnaldo Jabor, a saber:

"Você é do PCC?"

- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralasperiferias. A solução que nunca vinha... Que fizeram ?Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...



- Mas... A solução seria...

- Solução? Não há mais solução, cara... A própria ideia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento económico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até Conference Calls entre presídios...) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.



- Você não têm medo de morrer?

- Você é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar... Mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... Mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, Internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.



- O que mudou nas periferias?

- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... Ha, ha. Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.



- Mas o que devemos fazer?

- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atómica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo... Já pensou? Ipanema radioativa?



- Mas... não haveria solução?

- Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... na boa... na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês... não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogni speranza voi che entrate!" - Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno."

De vários comentários que li, gostaria de realçar o do Renato:

A construção do texto, para quem conhece o estilo do Arnaldo Jabor, já indica a mentira da "entrevista". É bom conhecer o pensamento dos nossos articulistas intelectuais, nesse caso mostra o lado facista do Arnaldo que admite uma tomada do poder, nos moldes do militarismo e ao arrepio da democracia para resolver questões que essa mesma gente "dona da verdade" ajudou, e muito, a criar.
A exclusão que cevou toda essa violencia dos dias de hoje é fruto do descaso histórico e secular das nossas elites.
Tudo tem geito, pra tudo há solução, mas interessa nesse momento vender e pintar o diabo mais preto do que já é. Isso é pura manipulação para voltarem ao poder e a velha pilhagem de sempre.
Mas, para desespero dos Arnaldos, e são muitos, desse nosso Brasil, maravilhoso alias, lentamente o povão vai assumindo sua cara e sua vontade nessa nossa democracia.
As elites podem até voltar ao poder, mas terão que apresentar muito mais que promessas, palavras vazias, candidatos padrão global e outras tentativas de enganar como vem fazendo a tantos anos. Precisam trabahar em projetos sérios, levando em consideração o estado e sua gente e não ficar tentando golpes, desestabilizações momentâneas, vendendo medos e temores para nosso povo tão carente de letras. Eles precisam entender que cada vez que o Lula, numa manifestação ao povo, diz "minha mãe nasceu analfabeta" dentro de um contexto. Ele perde os votos de 10 ou 20 intelectuais, jornalistas de direita, academicos e sei lá mais quanta gente culta e empolada. Mas, e exatamente quando ganha 100 ou 200 votos de um monte de gente inculta, pobre e humilde que pensa com ele "a minha também".








A foto que escolhi para ilustrar este 'post' é de Gabriel O Pensador e é com o seu hino à esperança que termino:


Brasil 500 anos


500 anos de vida,
500 anos de sobrevivência,
500 anos de história,
500 anos de experiência,
500 anos de batalhas, derrotas e vitórias,
Desordem e progresso, fracasso,sucesso,
Dor e alegria, tristeza e paixão,
500 anos de trabalho,
e a obra ainda está em construção,
A luta continua, a vida continua,
Apesar do sangue que escorre,
O guerreiro não se cansa e acredita na mudança,
Porque a esperança é última que morre.


Será só imaginação?

Será que nada vai acontecer?

Será que é tudo isso em vão?

Será que vamos conseguir vencer?



Eu odeio tudo isso mas eu tenho que saber,
O que eu leio no jornal e eu vejo na TV,
Eu odeio tudo isso mais eu tenho que vencer,
Porque eu tenho um compromisso com a vida e com você,
O que eu vejo no jornal não me deixa feliz,
Mas não mudo de canal e não mudo d país,
Eu tenho medo, porque o medo está no ar,
Mas ainda é cedo pra deixar tudo pra lá,
Não adianta ficar aqui á toa,
Só esperando pra ouvir notícia boa,
O que se planta é o que se colhe,
O futuro é um presente que a gente mesmo escolhe,
A semente ja está no nosso chão,
Agora é só regar com a mente e o coração,
A transformação da revolta em amor,
Faz a água virar vinho e o espinho virar flor,


Será só imaginação?

Será que nada vai acontecer?

Será que é tudo isso em vão?

Será que vamos conseguir vencer?




Não adianta ficar aqui é toa,
Só esperando pra ouvir notícia boa,
O que se planta é o que se colhe,
O futuro é um presente que a gente mesmo escolhe,
A semente ja está no nosso chão,
Agora é só regar com a mente e o coração,
A transformação da revolta em amor,
A transformação...


Será só imaginação?

Será que nada vai acontecer?

Será que é tudo isso em vão?

Será que vamos conseguir vencer?



Nem todos que sonharam conseguiram, mas pra conseguir é preciso
sonhar.

14 fevereiro 2007 

O Amor é Lindo e Simples












Sobretudo quando o nosso prato favorito é favas com chouriço !




Mas o amor pode ainda ser mais mais lindo
e mais simples. Sobretudo quando a nossa
actividade preferida é o ... estou no ir(clicando em PORQUÊ?)


Valha-nos Deus!

 




13 fevereiro 2007 

A Arte de Bem Escrever




belas ideias perdem-se em textos mal escritos e desordenados e confusos e com pontuação incorrecta e textos mal escritos e desordenados e confusos e com pontuação incorrecta "são como a treponemíase" já lá dizia T.S.Elliot.e o meu doce Alexandre que é jornalista e tudo e até me diz frequentemente
que.
E é possível escrever bem comó caraças (eu sou a prova provada disso mesmo).
Sempre! Não resolvendo embora, ajuda não obstante seguir algumas regras, evitando o batido estratagema do recurso a expressões estrangeiras de línguas vivas e muito menos mortas quisso não engana ninguém é um gajo a fazer-se passar por culto,
e.g., que é como quem vai dizendo tolle, lege que é latim como toda a gente sabe mas o Sapiens nihil affirmat quod non probet também ficaria aqui bem:

1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.

2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita
demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o
exibicionismo narcisístico.

3. Anule aliterações altamente abusivas.

4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.

5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.

6. O uso de parêntesis (mesmo quando for relevante) é desnecessário.

7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.

8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, tá fixe?

9. Palavras de baixo calão podem transformar o seu texto numa merda.

10. Nunca generalize: generalizar, é um erro em todas as situações.

11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma
palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra
repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.

12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem
cita os outros não tem ideias próprias".

13. Frases incompletas podem causar

14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas
diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por
outras palavras, não repita a mesma ideia várias vezes.

15. Seja mais ou menos específico.

16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!

17. A voz passiva deve ser evitada.

18. Utilize a pontuação correctamente o ponto e a vírgula
especialmente será que já ninguém sabe utilizar o ponto de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?

20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.

21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.

22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-las-ei!"

23. Analogias na escrita são tão úteis quanto cornos numa galinha.

24. Não abuse das exclamações! Nunca! O seu texto fica horrível!

25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a
compreensão da ideia nelas contida, e, por conterem mais que uma ideia
central, o
que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam desta forma, o pobre
leitor a separá-la nos seus diversos componentes, de forma a torná-las
compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do
processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases
mais
curtas.

26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúaa portuguêza.

27. Seja incisivo e coerente, ou não.

28. Não fique escrevendo no gerúndio. Você vai deixando seu texto
pobre - causando ambiguidade - e esquisito, ficando com a sensação de que
as
coisas ainda estão acontecendo.

29. Outra barbaridade que você deve evitar é usar muitas expressões
que acabem por denunciar a região onde tu moras, carago!



De nada!
Verba volant, scripta manent!

09 fevereiro 2007 

VOTAR É PRECISO

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?









"O que está em causa no referendo é decidir se o aborto nessas condições deve deixar de ser crime, como é hoje, sujeito a uma pena de prisão até 3 anos (art. 140.º do Código Penal). Por isso, é francamente enganador chamar ao referendo o “referendo do aborto” ou “sobre o aborto”, como muita gente diz. De facto, não se trata de saber a posição de cada um sobre o aborto (suponho que ninguém aplaude o aborto), mas sim de decidir se a mulher que não se conforma com uma gravidez indesejada, e resolve interrompê-la, deve ou não ser perseguida e julgada e punida com pena de prisão
(Vital Moreira, in Público)









“Sou a favor da despenalização do aborto, nas condições e limites propostos no referendo, ou seja, desde que realizado por decisão da mulher, em estabelecimento de saúde, nas primeiras dez semanas de gravidez".

06 fevereiro 2007 

VOTAR É PRECISO













A mulher decide?


A mulher decide? O assunto só interessa às mulheres? O homem deve ou não ser ouvido na tomada de decisão sobre o aborto? O assunto não interessa apenas às mulheres mas elas têm o direito de decidir, optando, de acordo com a sua consciência, face a uma situação de gravidez indesejada. A lei actual não exige que o homem seja consultado. O homem será seguramente ouvido pela mulher, se houver um bom relacionamento entre ambos. Os homens, como parte integrante da relação afectiva, sexual e da concepção, deverão estar também interessados na defesa da saúde das mulheres e no direito a ter filhos desejados. Deverá estar fora de questão fazer depender a decisão do consentimento do homem. Nesse caso, havendo discordância, teria de se prever o recurso ao Tribunal para dirimir o conflito. Devido à limitação do prazo, isso inviabilizaria o recurso à IVG e aumentaria a conflitualidade na família.


Que razões que levam uma mulher a abortar?

As razões são variadas e do foro íntimo das mulheres e dos casais. Além das falhas dos métodos contraceptivos, as que mais pesam são, sobretudo, as razões económicas e sociais. Haverá ainda mulheres para as quais a componente familiar e social, em determinada altura, não seja favorável à vinda de uma criança, com todas as responsabilidades que ela representa para o agregado familiar. Muitas mulheres são discriminadas no acesso ao emprego, nos salários, na progressão na carreira porque são mães, outras são despedidas porque engravidam. Para as jovens - que iniciam cada vez mais cedo a sua vida sexual e, frequentemente, sem acesso a contraceptivos - as razões fundar-se-ão, essencialmente, numa insuficiente, se não mesmo inexistente, educação sexual em meio familiar e nas escolas.

É preciso


Qual é a situação noutros países da União Europeia??


Em todos os Estados-membros da União Europeia – à excepção de Portugal, Irlanda e Polónia – realizam-se IVGs em estabelecimentos de saúde legalmente autorizados (inclusive em Espanha, onde a lei é semelhante à portuguesa). Fazem-no, utilizando, escrupulosamente, a cláusula de existência de risco para a saúde mental da mulher, o que comprovam, clinicamente, com entrevistas, testes ou exames feitos por psicólogos e psiquiatras e dando um prazo para reflexão, quando existem dúvidas. Queremos uma lei que, à semelhança do que se passa na União Europeia, não criminalize as mulheres.

Com a utilização do planeamento familiar, justifica-se haver gravidezes não planeadas?


Não é uma questão de justificação. As gravidezes acontecem, de facto, a um número significativo de mulheres que fazem Planeamento Familiar, porque não há métodos anticonceptivos – incluindo a pílula e o DIU (dispositivo intra-uterino) – 100% seguros. Apesar de as mulheres, por indicação médica, os seguirem, há situações em que eles falham. Há medicamentos que são prescritos pelos médicos para o tratamento de diversas doenças que anulam o efeito dos métodos anticoncepcionais, permitindo que a mulher engravide apesar de estar a seguir Planeamento Familiar. Estas situações, bem como a deslocação do DIU, estão longe de serem raras. Por outro lado, as consultas de planeamento familiar nos Centros de Saúde estão longe de responder às necessidades da população. Ao contrário do que a lei estipula, as consultas não dispõem, em muitos casos, de métodos gratuitos e a capacidade de resposta dos médicos de família, a esta questão da saúde da mulher, é limitada.

É preciso


A despenalização da IVG vai banalizá-la?

Certamente que não. Quem recorre ao aborto num estabelecimento de saúde será necessariamente melhor acompanhado pelos respectivos serviços de saúde e o recurso ao aborto tenderá a diminuir, como aliás se tem verificado noutros países europeus. Além do esforço dos profissionais envolvidos nesta área na informação e esclarecimento das mulheres, terá de haver vontade política do Ministério da Saúde, traduzida, também, em dotações financeiras, de forma que a valência do Planeamento Familiar seja reforçada. A Organização Mundial de Saúde dedicou o dia 7 de Abril de 1998 à maternidade sem riscos. Num documento publicado com um capítulo sobre o aborto clandestino, afirma: “Contrariamente ao que se pensa geralmente, a legalização do aborto não acarreta necessariamente um acréscimo das taxas de aborto”. A confirmá-lo, as estatísticas oficiais de países como a Itália, a Finlândia, a Noruega, o Reino Unido. Na Holanda - onde a legislação sobre o aborto não comporta restrições, onde os contraceptivos são acessíveis a toda a gente e onde os serviços que praticam a IVG são gratuitos – segundo os serviços oficiais, regista-se (dados de 1998) a taxa de abortos mais baixa do mundo – 5,5 abortos por 1000 mulheres em idade fértil, por ano. A despenalização da IVG não levará ao aumento do recurso ao aborto, nem obrigará nenhuma mulher a abortar.


Na IVG há hospitalização? Os estabelecimentos de saúde terão capacidade para atender as mulheres?

Não. Não há hospitalização, logo, não há ocupação de cama. Só é necessário um serviço com condições clínicas e humanizado. Envolverá os serviços de ginecologia/obstetrícia e psicologia, à semelhança do que se verifica noutros países. E é, evidentemente, garantido às mulheres sigilo e privacidade. Não é verdade que os estabelecimentos de saúde não terão capacidade para atender as mulheres. Esta é outra ideia falsa que procuram incutir. Os estabelecimentos de saúde, ou seja, o Serviço Nacional de Saúde, gastam muito dinheiro, isso sim, nas urgências e no tratamento (incluindo a ocupação de camas por vários dias, nos hospitais centrais) de graves doenças provocadas, directa ou indirectamente, pelo aborto clandestino, nomeadamente, casos de graves infecções ou infertilidade. As organizações e serviços de saúde estrangeiros têm-se referido a estes custos e chamado a atenção para a sua prevenção. É completamente falso que estes serviços vão aumentar as listas de espera de outras especialidades nos estabelecimentos de saúde, nomeadamente nos hospitais.

fonte:

 

VOTAR É PRECISO












Pode ser-se cristã/cristão e votar o SIM?

É uma evidência que sim. Muitos cristãos não seguem as orientações da hierarquia da Igreja, na área da saúde materno-infantil e do planeamento familiar. Milhares de mulheres cristãs interromperam já uma gravidez. Haverá, ainda, muitos cristãos que não deixarão de ser solidários para com as mulheres que se vêem obrigadas a recorrer à IVG, designadamente, por razões económicas e sociais. 0 0 Sem mensagens
Onde está a defesa do direito à vida e da dignidade humana?
A polémica que as forças conservadoras (que estão na base da criação dos movimentos pelo Não) pretendem centrar em torno da questão da “vida” visa viciar e afastar a discussão do fundamental, isto é, do aborto clandestino. É uma discussão a evitar, nomeadamente porque há anos que se arrasta nos meios científicos, sem que haja opiniões unânimes sobre a matéria. Por outro lado, os que tanto falam, nestas alturas, do direito “à vida” são, muitas vezes, os mesmos que convivem, diária e tranquilamente, com o aborto clandestino e as suas sequelas, com as perseguições, os julgamentos e condenações de mulheres ou com o aumento das desigualdades sociais. Evidenciam total insensibilidade perante as condições desumanas e injustas a que as mulheres são sujeitas e face às condições de vida dos que já nasceram e das suas famílias, que, tantas vezes, se situam abaixo dos limiares de pobreza e da dignidade humana. Pode mesmo dizer-se que é nos que defendem o SIM À DESPENALIZAÇÃO DA IVG que residem os valores da vida, pois defendem a saúde e a dignidade das mulheres e a sua responsabilidade; defendem o direito da mulher e do casal a decidirem o número de filhos que desejam ter, bem como o direito das crianças serem desejadas, amadas e assumidas, responsavelmente, pelos pais, em todas as fases das suas vidas; defendem o bem-estar das famílias.

É preciso


O Referendo é vinculativo?

O Referendo só é vinculativo se votarem mais de 50% dos cidadãos e cidadãs recenseados. O que significa que é necessário mobilizar activamente para o voto, todos os que apoiam o SIM, combatendo qualquer tendência para a sua abstenção.

Se ganhar o SIM sem que tenham votado mais de 50% dos eleitores, a IVG é despenalizada?

Se ganhar o SIM, não tendo, porém, entrado nas urnas votos de mais de 50% dos eleitores, a Assembleia da República pode legislar, aprovando uma lei de despenalização.


Se ganhar o Não o que é que acontece?


Se o Não ganhar, tendo entrado nas urnas votos (sim e não) de mais de 50% dos eleitores, só poderá ser apresentado novo Projecto na próxima legislatura ou depois de aprovada a despenalização em novo referendo.



O que está em causa no Referendo é ser-se “a favor” ou “contra” o aborto?

Não. O que está em causa é decidir entre o aborto em condições precisas – de assistência, segurança, higiene, protecção da saúde, de forma gratuita e com informação e prevenção para evitar, no futuro, o possível recurso ao aborto; ou o aborto clandestino - sinónimo de isolamento e desamparo da mulher - com consequências gravíssimas para a sua saúde física e psíquica. O aborto é sempre um último recurso e não um método de Planeamento Familiar.


Liberalizar e despenalizar são a mesma coisa?

Não. Vejamos: se a pergunta do referendo fosse “Concorda com a despenalização da IVG nas primeiras 10 semanas?”, o que o referendo estaria a propor era, de facto, a liberalização da IVG nas primeiras 10 semanas. Deixaria de ser crime e poderia ser feito em quaisquer condições e por qualquer pessoa: em casa, na parteira, em clínicas privadas. Quem fizesse o aborto à mulher, fossem quais fossem as condições, também não cometeria qualquer crime. Mas isso significaria que os hospitais ou estabelecimentos de saúde poderiam negar às mulheres o acesso à prática da IVG. Ou seja: podíamos continuar a ter, e continuaríamos a ter, graves problemas de saúde causados pelo aborto, que já não seria clandestino, mas seria feito em condições de insegurança. Excepto em relação às mulheres com possibilidades económicas, que o fariam em clínicas privadas.

É preciso

Se as mulheres abortarem depois das 10 semanas são criminosas? (Por exemplo: 10 semanas e 1 dia?

Por uma questão de princípio, não consideramos a criminalização das mulheres por recorrerem ao aborto, porque entendemos que o fazem por razões fundamentadas, estejam ou não previstas na lei. No entanto, uma lei desta natureza tem de estar balizada no tempo e reflectir a realidade da sociedade e o contexto em que é discutida e aprovada. Os/as defensores/as do Sim, queriam que a lei permitisse a IVG até às 12 semanas - coincidindo com o prazo que o Código Penal em vigor estabelece para a “interrupção da gravidez não punível” (Artº 142, nº 1, alínea b) - mas assim não entendeu a maioria que decidiu levar o assunto a referendo. Lutamos para que se consiga aprovar esta proposta e devemos considerar que, sobre este assunto, em vez de se alimentar a especulação, deve centrar-se a discussão no essencial. Este argumento aparece como manobra de diversão.

fonte:

05 fevereiro 2007 





Ana, 14 anos, morta pela 'boa' lei


"A história passa-se no final de 2005. Uma adolescente de 14 anos entra no Hospital de Santa Maria com uma overdose de misoprostol, vulgo Citotec, o medicamento para o estômago liberalizado nos últimos cinco ou seis anos como método abortivo auto-induzido que resulta em inúmeras sobredosagens diagnosticadas nas urgências. Ana - chamemos-lhe Ana, é curto e serve - tomou 64 comprimidos. Remetida de um hospital de periferia, chega "já em choque" a Santa Maria, com "alterações vasculares importantes ao nível do tubo digestivo". Em bom português, a Ana está toda rebentada por dentro. A operação não a salva. Ana estava de 20 semanas. Mais dez que aquelas que a pergunta do referendo prevê e mais oito que as 12 previstas na lei em vigor para casos de "risco para saúde física ou psíquica da grávida". Talvez, se Ana tivesse tido a ideia e a coragem de, com ou sem os pais, ir a um hospital às dez semanas de gravidez, um médico compassivo lhe tivesse resolvido "o problema", considerando que a gravidez numa menina de 14 anos pode constituir um grave risco para a saúde. Nunca saberemos. O que se sabe é que a lei não abre excepções para meninas de 14 anos - mesmo se, aos 14 anos, nem sequer se é imputável criminalmente. O que se sabe é que a lei diz que toda a gravidez "normal" que não seja entendida como fruto de crime de violação deve ser levada a termo, com carácter de obrigatoriedade e sob ameaça de três anos de prisão. E que mesmo nos casos como o da Ana, cujo acto, pela idade da autora, estaria automaticamente despenalizado, a pena pode ser a morte. A morte por aborto, em 2005, por ausência de acesso a uma interrupção de gravidez médica e segura...."

Julio Machado Vaz


04 fevereiro 2007 

Direito ao disparate









defendo que, sem deixar de constituir um crime, o aborto deve ser punido com penas alternativas à prisão, como o trabalho comunitário

(Bagão Félix)

Sim, por que não condenar as “abortadeiras” a servir nos “chás de caridade” das santas senhoras defensoras dos valores da família?
Dessas mesmo. Das que, quando a necessidade aperta, levam as filhas a boas clínicas no estrangeiro.

postado por A.Mello-Alter

03 fevereiro 2007 












"Dificuldade de governar

1

Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente,
Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se-ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

2

É também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3

Se governar fosse fácil
Não haveria necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
É só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4

Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?"

Bertolt Brecht
(gebürtig Eugen Berthold Friedrich Brecht;
10. Februar 1898 in Augsburg - 14. August 1956 in Berlin)

01 fevereiro 2007 






----- Original Message -----
From: ....
To: Titas
Sent: Thursday, February 01, 2007 5:41 PM
Subject: Do melhor! Em Barcelona.

Esta é uma das muitas clínicas espanholas que praticam o aborto. Será este o panorama português se o Sim ganhar.

É brilhante este site. Reparem no último link do lado esquerdo. É isso mesmo: um convite ao turismo…

Venha abortar e dê um passeio pela bela Barcelona, é a proposta deste centro de abate.

Fica em:

http://www.tutormedica.com/es/aborto_legal.htm.


----- Original Message -----
From: Titas
To: ...
Sent: Thursday, February 01, 2007 7:07 PM
Subject: Re: Do melhor! Em Barcelona.


exacto: o "turismo" abortivo existe, como existirá em breve o turismo de fertilização clinicamente assistida ou o turismo de tratamento com células estaminais embrionárias (se a nossa lei vier a ser igual à italiana, por exemplo).

Não é justo que uma mulher que aborta vá para a prisão ou que ponha em risco a sua saúde, como eu o fiz: saí da abortadeira e tive que ser internada na Cuf.

És contra o aborto? Tens todo esse direito.

Não tens é o direito de impedir que uma mulher o faça. Nem tens o direito de lhe chamar inconsciente ou criminosa, pois criminosas são aquelas mães que põem no mundo crianças que depois matam (lembras-te da pequenina Joana?), ou que permitem que sejam violadas, maltratadas.

Desculpa, ...., mas este é um argumento que mexe com sentimentos e valores, portanto não pode, nem deve, ser tratado com ligeireza humorística ou grosseria.

Nota: Já vi na televisão militantes pelo "Não", que levaram as filhas precisamente à clínica que referes.

 

















"L'Alliance pour la Planète" lança o apelo que será seguido não só em França, mas em outros muitos países:

No dia 1 de Fevereiro de 2007 entre as 19h55 et 20h00, o mundo apaga as suas luzes.


Não se trata de economizar 5 minutos de electricidade apenas neste dia, mas procura-se chamar a atenção de todos os cidadãos, dos media, políticos e senhores da economia sobre o desperdício de energia e a urgência de passar à acção.

5 minutos de respeito pelo Planeta... um princípio!


E, já agora, nos nossos e-mails, não custa nada acrescentar:

Antes de imprimir este e-mail pense bem se é mesmo necessário fazê-lo.

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Antes de imprimir este email, piense si es realmente necesario hacerlo
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Última hora:

Efeito prático do apagão de hoje pode ser “mais um problema que uma solução”
01.02.2007 - 10h32 Ana Machado



Os cinco minutos de apagão simbólico marcados para hoje às 18h55 de Lisboa, em nome do clima do Planeta, pode ser mais um problema que uma solução.

Francisco Ferreira, da Quercus, afirma que, em termos de efeitos práticos a medida pode “provocar algum desequilíbrio na rede eléctrica”, uma vez que, em termos de eficiência energética, a produção deve ser igual ao consumo: “Todo o sistema vai continuar a funcionar e durante cinco minutos isso vai ser ignorado, o que vai implicar desperdício de energia. Por isso esta medida é mais um problema do que uma solução.”

A mesma explicação já tinha sido ontem avançada à agência Lusa por Amarante santos, gestor de sistemas da Rede Eléctrica Nacional, REN, que avançou que esta medida simbólica pode causar perturbações no abastecimento.

Para além das consequências práticas, Francisco Ferreira adianta que o significado filosófico da iniciativa, proposta pela organização francesa Aliança para o Planeta, não é eficaz: “Uma das principais medidas para combater o problema das alterações climáticas é reduzir o consumo de electricidade, mas essa redução tem de ser acompanhada pela prática de políticas de eficiência energética e, principalmente, de apoio às energias renováveis. E o sector que cresce mais continua ser o dos transportes.”

A Quercus, bem como a rede europeia de associações ambientalistas a que pertence, não adere hoje a esta iniciativa da Aliança para o Planeta. O mesmo foi decidido pela Greenpeace e pela WWF.
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Sabem o que vos digo?
Assim, não dá.
'Tou fodida (para não dizer lixada, que é feio) com isto tudo.