20 junho 2009 

Faciamo le corna afinchè la crisi se ne vada presto

Da meia dùzia das linguas que conhe@o, o italiano è a que mais me fascina (obviamente tanto quanto o homem italiano).

Le corna (os cornos), por exemplo. Enquanto que a palavra "cornuto" è ofensiva, sendo utilizada para um furioso insulto, a expressao "le corna" jà nao o è; pelo contrario, enfaticamente acompanhada pelo gesto respectivo, è tao sagrada quanto o sinal da cruz ou um "Deus me valha" ou "Queira Deus". Exemplifico. Um "nao me tem doido as costas" ou a visao de um carro funerario sao acompanhados dum tao sonoro quanto gestual corna, enquanto que uma infrac@ao ao codigo da estrada è premiada pela vitima com um raivoso e bem salibado cor-nu-tòòòòò.

Quem nao se lembra do famoso gesto de Berlusconi no retrato de familia duma reuniao europeia? Como o seu ar era sorridente, presume-se que fizesse le corna, provavelmente porque o vizinho lhe dissera: "nas proximas elei@oes ganharà a esquerda.

Dou ainda um outro exemplo: em pleno periodo de polimento de cromados, verificava que o meu italiano apertava, de vez em quando as palle (ou seja, os "tomates"). Enchi-me de coragem e sugeri que evitasse tao deselegante gesto. "Mai!!!!! Tocare le palle significa allontanaqre la sfiga". Mesmo assim, vencida mas nao convencida com este horrorizado "Nunca!!!!!", decidi tirar a coisa a limpo, logo na primeira vez que vim a Italia. "'E verdade que voces agarram os tomates para afugentar o azar?" So de ouvir a palavra azar, todos os homens presentes, incluindo o meu, se agarraram aos seus. Joguei a minha ultima cartada:"E entao nos, mulheres, como fazemos?" "Bem se ve que es estrangeira e ainda nao conheces bem a gentileza dos italianos, pois, junto a uma senhora, ha sempre um homem com eles àa disposi@ao".

17 junho 2009 

titas, a aculturada

"Era uma vez uma guardadora de gansos, que nao a dos irmaos Grimm. Toda a sua vida guardara gansos.
Um dia foi à cidade, por la ficou um mes. De regresso, passeando com amigas, ve ao longe um rebanho de gansos e pergunta: Que bichinhos sao aqueles?"

Isto, para dizer que me sinto linguisticamente aculturada, depois de 2 meses em Ialia. Em minha defesa, devo acrescentar que falam comigo, em casa e ha 14 anos, apenas em italiano. Eu respondo em portugues, introduzindo, quà e là, algumas palavras em italiano.

Decidi agora frequentar um curso de italiano, sobretudo porque è uma das muitas actividades que o camping Marina de Venezia oferece. Mas, aqui, a coisa complica-se ainda mais, pois o curso è dado em alemao. Para alem disso, como vejo televisao e leio revistas e jornais italianos , o meu parlare torna-se ainda mais confuso, pois os italianos, certamente para compensar a sua total inaptidao para qualquer lingua que nao seja a sua, introduzem cada vez mais palavras estrangeiras.

Um exemplo: "A contenda entre o premier Berlusconi e a first lady Veronica nao passou de um flop, only (eles dizem òli) alimentado pelos gossip dos media e uma infrutifera escalation da esquerda".
A liaison do cavalière Berlusconi nao è clara, mas, para os italianos tal representa menos que uma nomination do Grande Fratello, stop e smile (eles dizem ztop e zmàilè).

E por hoje, amici carissimi, è tutto. Auf wierdersehen, à bientot e kisses, che me ne vado.

04 junho 2009 

Para as elei@oes europeias, se eu estivesse em Portugal...

Ante Scriptum: Em Italia, a vota@ao inicia-se a 6, Sabado, das 15 às 22 horas e Domingo, 7, das 7 às 22 horas. A primeira grande novidade è que qualquer partido, que nao alcance os 4%, nao terà no Parlamento Europeu nenhum deputado, o que jà resultou em alian@as de pequenos partidos para, deste modo, alcan@arem aquela nao despicienda quota. Apenas por curiosidade, enuncio os nomes dos partidos concorrentes: Popolo della Libertà, de Silvio Berlusconi, Parito Democratico, Lega Nord, Italia dei Valori, Unioni di Centro, Refondazioni Comunista, Sinistra e Libertà (alian@a tecnica de esquerda), Lista Pannella Bonino (radicais guiados pelos lideres Marco Pannella e Emma Bonino), L'Autonomia (alian@a tecnica de direita), Liberaldemocratici, Partito Comunista (trotzkista) e Liste Civiche Beppe Grillo (famoso comico).


Para as elei@oes europeias, se eu estivesse em Portugal, votaria, como sempre, comunista. 'E uso dizer-se que so os burros nao mudam, pois bem, neste caso preciso, orgulho-me de ser "burra". Alias, que me lembre, apenas uma vez "engoli um sapo" e, ao recordar, ainda hoje me sinto enfartada.

Vem isto a proposito para dizer que, se os turistas votassem, eu votaria Pdl, o partido de Berlusconi. De facto, cansada, estafada, exaurida de tanta crise, tanto pessimismo, tanto diluvio universal, sabe-me mesmo bem estar nesta paradoxal Italia de Berlusconi.

Aqui, a crise nao è sofrida atè à flagela@ao. Ela existe e è preocupante, mas è tratada com consciente optimismo, por sua vez transmitido ao cidadao, quer nos programas tematicos quer nos sucintos, mas abrangentes e precisos telejornais de 20 minutos, onde o apresentador dà a noticia, passa o servi@o ao jornalista, que concretiza os factos e consequencias, dizendo e mostrando o essencial, sem entrevistar 57 pessoas, perguntando, por exemplo, como se sentiram quando a casa lhes caiu em cima.

Votaria ainda Pdl, entre outras razoes, porque nao consigo ser "politicamente correcta" quanto ao caso dos imigrantes clandestinos.'E simples clamar contra a proibi@ao da imigra@ao clandestina, quando se vive num pais onde ela nao e significativa, mas gostaria de ouvir as palavras de um Guterres se Portugal, no estado economico em que se encontra, fosse, de forma continua e crescente, invadido por milhares de imigrantes clandestinos.

Por fim, e porque isto jà vai longo e o tempo do cartao net està a esgotar-se, mais um pensamento sobre Berlusconi. Depois do falhan@o do governo Prodi (um homem por quem nutro um profundo respeito), cujo erro foi nao ter considerado a priori que a governa@o de um governo com vinte e nao sei quantos partidos lhe tornaria impossivel a govarna@ao do Pais, Berlusconi è um homem sem duvida autoritario, mas nao arrogante (ai, como eu estava farta, fartissima de tanta arrogancia) que se preocupa em governar, mais do que lamuriar-se e que, perante a calunia, exprime a sua inocencia optando pelo sagrado juramento pelos seus filhos, em vez de instaurar processos a jornalistas a torto e a direito.

Tambem por isso, mas sobretudo porque, (nao so devido ao seu dinheiro e poder), os italianos se reveem neste homem decidido, divertido e malandreco, a sua popularidade aumentou e serà, sem duvida, o grande vencedor destas elei@es.


Post scriptum - Dado que eu nao poderei votar, mi racomando, amici e concitadini, votem bem, votem alternativa... ou nao votem, pois os parlamentares europeus apenas valem o que valem: milhares e milhares de euros de ordenado, para nao fazerem a ponta dum corno.