27 fevereiro 2006 

Queridas Tias e Queridos Tios,

























Venho dizer-vos que já aqui estou desde as 18,45 de ontem, dia 26. Peso 3,250 kg, só mais logo saberei quanto meço e já consegui tirar um bocadinho de colostro da maminha da minha mãe, e só vos digo: que petisco!

Não me quero gabar, mas todos dizem que sou lindo. Também acho que venho bem "apetrechado", pois ouvi o médico dizer ao meu pai: "safa, que o seu filho tem aqui um equipamento e peras!"

Mas há coisas que eu não entendo, ou, por outra, já comecei a entender que vocês, gente grande, são muito esquisitos e nada coerentes. Eu explico: ainda na barriga da minha mãe, ouvia as histórias que me contavam e ouvia as conversas todas; portanto, sabia (pensava eu que sabia...) que, na vida, nos devemos portar bem. Pois, pasmem, logo após eu nascer, o médico deu um passou-bem à minha mãe e disse-lhe: "Parabéns! Portou-se muito mal". Mas isto não vai ficar assim... deixa eu só crescer mais um bocadinho, e aquele médico terá de avir-se comigo. Sim, que força e coragem não me faltam.

Pois é verdade, minhas queridas tias e meus queridos tios: para nascer (e deixem-me dizer que nascer não é nada fácil) eu fiz tudo sozinho. Ah pois é! Sozinho! Sozinho e quase surdo, pois a minha mãe berrava que se fartava. Que as coisas fiquem claras: eu não sou um puto contestatário, que não sou, mas não fosse o colostro da minha mãe tão bom e o seu miminho tão conchegador, eu bem que lhe diria: "óbrigadinho pela ajuda, mãe!". Porque, meus tios e tias, pensam que aquela marota colaborou? Mas nem pensar!!!!!!!! Aquilo foi uma berraria tal que eu até acho que meio Olivais se sobressaltou.

Contudo, também vos digo, até foi melhor assim. A única vez que a minha mãe conseguiu colaborar, a coisa ia dando para o torto.

Eu conto-vos. Estava já a ventosa agarrada à minha cabeça, o meu pai empurrava os ombros da minha mãe contra a barriga, e o médico, enquanto dizia à minha mãe para se segurar à barra, ordenou: "FORÇA!!!!!!!! AGORA !!!!!!"
E vai a minha mãe, desata a fazer tanta força nos braços(!) contra a barra, que escorregou e saíu disparada cama afora. Por outras palavras, atirou-se da cama a baixo! Aquilo foi uma confusão, que nem vos digo nem vos conto. E eu ali, feito parvo, por momentos abandonado, sozinho naquela escuridão, com uma ventosa enfiadoa nos c.... perdão, na cabeça!

Mas pronto, já passou, e logo que me tiraram do berçário e me levaram para o quarto, a Titas deu-me uma enorme alegria : o Benfica ganhou!

E agora, queridas tias e tios, vou dormir, que o dia, hoje, foi um cadito cansativo.

Para todos vós, de quem já gosto muito, um beijo do vosso sobrinho
Tiago

26 fevereiro 2006 

















(Crédito: Raquel)


Que a hora te seja pequenina, minha filha, meu amor!

24 fevereiro 2006 


Nasci a 26 de Maio de 1995 ás 10,30 da manhã.
Sou do signo Gémeos. Adoro desporto.
Pratico artes Marciais.
Sou cinto castanho de Taekwondo.
Sou federada e ando em competição.
Já ganhei duas medalhas em combates...




Dread, minha querida e linda menina,

Sabes, meu amor, há gente que nasce, mas não é gente como nós, é anjo. O teu pai era assim, um anjo. Veio à terra plantar uma semente, o que é preciso, para que este mundo não se torne feio, mas continue belo, e depois partiu de novo para o céu. A semente és tu, minha querida. E o teu papá vive em ti, contigo, mas tem de estar no céu, lá em cima, porque tem de olhar por todos os meninos e meninas deste mundo. Digo-te um segredo, minha linda Dread: de todos os meninos e meninas por quem ele olha, tu és a sua preferida. Ele está sempre contigo!

Para ti, meu tesouro, um beijo da tua amiguinha
titas


Nota de rodapé:Acho-te muito parecida com a tua tia.

23 fevereiro 2006 

Cantemos Zeca Afonso

Que amor não me engana
Com a sua brandura
Se da antiga chama
Mal vive a amargura

Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia?

E as vozes embarcam
Num silêncio aflito
Quanto mais se apartam
Mais se ouve o seu grito


Muito à flor das àguas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira

Em novas coutadas
Junta de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera

Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
Pelo nascer do dia


Para ouvir na voz de Zeca Afonso


Associando-me à feliz iniciativa dos companheiros
do
Troll Urbano , cantemos todos o ZECA!

 

Resposta à carta de 20 do corrente...


























Casablanca, 22 de Fevereiro de 2006

Minha Querida Titas,

Eu bem te disse que devias ter vindo comigo a Marrocos.Mas insististe que tinhas que ir a Roma, que tinhas que ir a Roma!...
Pronto!-pensei-Ela vai a Roma, eu vou a Casablanca, e, no regresso, encontramo-nos no cruzamento para o Bom Jesus, e comemos o nosso bolo rei escangalhado no laguito, lá em cima no parque.

Pois, mas isto de ir a Marrocos e não comer uns frutos secos, atirar-lhe com uns belos de uns sumos de laranja por cima, mais umas saladas que nem te conto, mais uns chás de menta, mais frutos secos, mais uns cus-cus, mais uns sumos de laranja, mais umas bejecas depois do sol por, claro, e depois mais umas tâmaras com um molho que puxa mais um sumito de laranja... Bom!...

Eras tu nas Europas, a tentar dar uma mija ao som da Avé Maria, e eu, a correr feita doida à procura de uma casa de banho.

Bendito Hotel!
Imaginas a tua amiga a passar disparada pelos guardas, passadeira vermelha fora?
Não?
Logo vi que não imaginavas!
Queria lá saber que fosse o Hilton ou a pata que o pôs ou que viessem não sei quantos guardas atrás de mim!...
Ou encontrava uma casa de banho ou ia ser um cataclismo em terras que D.Sebastião pisou (digo eu, que o mecito não se ficou por Qzar el Quibir, podes crer!...)jamais sentido por aquelas paragens!
Hei-la, finalmente!
Linda! Nem era preciso puxador de porta, mulher!
Aquilo era a casa de banho do Ali Babá (os quarenta ladrões vinham atrás de mim, pois, mas isso fica para outras núpcias...)
Olha, imagina-me numa sala, à procura da retrete (aqueles gajos com a mania de chamarem "retrete" à reforma, vou-te dizer...)
Com a minha aflição, nem uma de francês me saía. Saía-me era outra coisa ou não encontrasse eu a sanita depressa.
Et... Voilá!

Linda, dourada, refrigerada, com música que saía por baixo, por cima.Digna de um cú de rei (de rainha, neste caso, ou melhor, de princesa, que eu sou jovem, tu sabes!)

Nina, aquilo foi um momento único!
Regaleeeeeei-me...

Eis que quando me preparava para procurar o papel, esboço o gesto...e...(poupo-te os pormenores, como é evidente) sinto uma refrescadela nas partes pudengas, depois um ar fresco que me secou as ditas, e, o toque final: Um jacto de pó de talco perfumado!!!

Isto, Linda, pensava eu, merecia ser filmado.Nem tinha acabado de o pensar e ouvi um Zip!Tssssc!...Zip!...Tsssssc!...Zip...
Ela lá estava, a câmara, a filmar, ora de um lado, ora do outro, a tua querida Cris, calças para baixo, a rir à gargalhada.

Digo-te!A tua "cagadela" foi santa, mas a minha? (Que Alá proteja aquela casa de banho para sempre!) Foi das coisas mais sublimes que deixei em terras de Africa.

E com esta me despeço, por agora!

Encontramo-nos então no cruzamento para o Bom Jesus.
Eu levo o bolo rei escangalhado e tu, uma pinguita para empurrar, está combinado? Ah!Aproveita para trazer o tal do boneco de peluche...aquele, sabes? Que me mandaste uma amostra por mail!...

Desta que te adora,
Cris,

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da titas para Cris: raistapartam melher... caté se me descontrolou o músculo pubococcígeo!

22 fevereiro 2006 

Para quem diz que só publico poucas vergonhas






















20 fevereiro 2006 


















Olha, minha querida Cris, eu bem que gostaria de também te escrever belas cartas de amor, mas falta-me engenho e arte.

Assim, conto-te mais uma das minhas desgraçadas histórias:

Absurdo seria estar em Itália em Abril de 2005 e não ir a Roma na altura do Conclave.

Cheguei na noite de 17 e instalei-me, como habitualmente, no Flaminio Village, um dos meus parques preferidos, onde, para além do grande e bonito espaço para a autocaravana, disponho de óptimas instalações, restaurantes, piscina; enfim, um local onde nem sequer me faltam belíssimas noites iluminadas por uma contínua chuva de estrelas: no bosque que circunda o parque existem centenas de pirilampos!

Mas afinal onde está a desgraça desta história? (estou a ouvir-te)

O meu problema, conto-to já:

Logo à chegada, fui à casa de banho (como sabes sou uma mijona do caraças).

Quase desmaiei! Um oceano de mármores, espelhos, cristais, luzes directas e indirectas, sala de maquilhagem, duches sumptuosos, plantas exóticas naturais... até uma fonte havia, quase tão bela como a de Trevi.

Ainda sob o choque do êxtase, fui fazer o meu xixi. Tu bem sabes, meu doce de algodão, que nós, meninas, temos uma maneira particular de fazer xixi. O primeiro jacto que sai pela força da gravidade é direccionado para a parede da sanita, de forma a que o som se assemelhe ao de uma melodiosa cascata, depois o jacto acaba e, após alguns segundos, faz-se mais um bocadinho. Limpa-se o pingo, e prontos já está.

Pois é, minha querida, só que acontece que o barulho da água da fonte estimula o xixi, a gente limpa o pingo e, desculpa a palavra, a vontade de mijar regressa.

Enfim, para abreviar, digo-te que, de tanto me relaxar ao som da água da fonte, e inebriada pelo suave perfume aspergido pelos bordos da sanita, chegou a vontade de algo mais sólido, se é que me faço entender...
Nada de grave se, para completar o paraíso daquela casa de banho, a música não fosse sacra.

Cris, (e volto a pedir desculpa pela palavra) tu conseguirias cagar ao som da Ave Maria de Schubert? Eu não.

Mas a semente (chamemos-lhe assim) estava lá. E o desconforto também. No final de um canto Gregoriano, verde de raiva, fiz um esforço hercúleo e o tampão precursor do alívio subsequente saiu disparado. E eis que irrompe por todo o espaço o clamor dum coro: Aleluia! Aleluia!

Não me contive. Depois do susto inicial, desatei a rir. É evidente que tudo o que deveria sair regressou à base.

Depois de 2 dias de desconforto, habituei-me à música sacra (com a excepção da Ave Maria de Schubert, claro) e também à restante música clássica, mas uma dúvida se me levanta:
Será que, no futuro, serei capaz de assistir a um concerto sem que me venha uma vontade irresistível de cagar?

Um beijo da tua
Titas

19 fevereiro 2006 



















Somos nós
Somos a vida escrita nos muros,
confundidos e inseguros,
fotografias e imagens de um filme infinito.
Somos culpados seres inocentes,
teimosos e inconscientes
rabanadas de granizo
e bandeiras de felicidade
somos nós as nuvens,
as frases nas cartas,
o sal das lágrimas,
os beijos nos cinemas,
o exacto oposto dos heróis,
somos nós as mensagens nas garrafas,
que talvez um dia um deus recolherá
somos nós a história a re-escrever no livro da realidade,
nós que viemos de estrelas remotas,
diversos na pele.
Somos nós os náufragos das estradas de mil cidades
o exacto oposto do herói
somos nós .....

Siamo noi
siamo tutti naufraghi per le strade di mille città
l'esatto opposto degli eroi, siamo noi, siamo noi...


Peço-te desculpa, Laura Pausini.

17 fevereiro 2006 









"Mamã, posso levar o teu carro hoje? 'Bigada, Mãe. É só para bater cenário!"

Por norma, o pé puxa-me para o chinelo, mas naquele dia apeteceu-me bater esse tal de cenário.

Decidi então fazer como os demais (leia-se a maioria dos meus vizinhos). Isto é, armei-me em cagona, estão a ver? Assim a modos de privilegiar o "parecer".

Carrito novo, desportivo... ora vamos lá mostrar-nos. Parei, com ar displicente, em frente ao mais concorrido café aqui da zona. Perfeito! Dia soalheiro, esplanada cheia....

Desata uma berraria "olhó carro, olhó carro!!!!"
E lá ia o meu desportivo, de negro vestido, a deslizar rua fora até embater no candeeiro. Mas o que mais me custou foi ouvir o comentário "mal empregado carro numa cota destas!"

16 fevereiro 2006 




Minha querida Raquel,

Não sei como agradecer-te por este blog lindo de morrer (como diria o "outro": é bom, é simples e é barato). Nada tendo para te dar, conto-te mais uma das minhas desventuradas histórias: a razão por que um certo azedume meu face ao Papa Ratzinger é toda culpa do Giacomo.

Mas antes de te explicar o porquê, devo ir um pouco atrás, tentando evitar (como é meu hábito) começar a história pelo dia em que nasci. Pois bem, na minha primeira viagem a Itália, há 9 anos, estava um pouco apreensiva, nervosa, até. Como me iria receber a nova famiglia? A outra metade de nós descansou-me: "A batalha, já a venceste! Nós, italianos temos um fascínio quase de culto por quem tem uma laurea e fala línguas. Tu tens 2 lauree e um bacharelato, falas 4 línguas, serás o orgoglio della famiglia". Ainda que o argumento não faça o meu género, va bene, guerra é guerra, e, para facilitar, já agora arredondemos então a coisa para 3 lauree e 6 línguas (metemos o português e o atávico espanhol, perchè non?).

E assim conheci a famiglia.
Apresentações. "E o Giulio como está? E o Gianfranco? A Pina casou-se?" Enfim, tudo estava nos conformes, até ao famigerado: "E o Giacomo?" Neste ponto operou-se a grande transformação e irrompeu a reverência, a idolatria, o orgulho, o respeito.
O nome de Giacomo era pronunciado com pompa e circunstância, como se de um todo-poderoso se tratasse. Giacomo era franciscano, Fra Bonifacio, para melhor precisar, tinha 5 licenciaturas, 3 doutoramentos (não contando com o honoris causa) e falava 11 línguas. Era um dos melhores estudiosos e intérpretes de canto gregoriano.

E foi esta a última gota que me reduziu a um estado abaixo de sub-nitrato de pó de merda. Tadinha de mim, que nem sequer um mestradozito tinha, quanto mais um doutoramento! E não sendo embora um modelo de virtudes, nem sequer engenho tivera para um doutoramento dis-honoris causa. E quanto a canto, nem te conto nem te digo. Engolindo o meu quase-quase despeito, desabafei baixinho: "va bè, é um homem muito culto, com um curriculum assinalável, mas não é Deus!".

"MA SERA PAPA".

« Será Papa? »
"Sim, todos sabem que será ele o novo Papa: pelo curriculum, pela posição que já ocupa na Igreja, pela idade, por ser italiano. De facto, todo o seu percurso tem sido dirigido nesse sentido".

Minha Raquel, tu imagina-me! Cresci um metro. Eu seria um dia a prima do Papa! Nunca te falei desta expectativa, mas imaginava o dia em que pudesse clamar aos sete ventos, assim como quem não quer a coisa: "O Papa Bonifacio, o meu primo Giacomo, até me disse que....".
E pensava no nosso círculo de amigos, conhecidos e desconhecidos, aqui, na net: "A Titas, a prima do Papa, ...".
E imaginava o dia da fumata bianca. Que emoção! De facto, para te ser franca, minha Raquel, eu já me via meio escondida atrás da janela das instalações papais, a assistir de cima à primeira missa papal. Ou então, sentada próxima dos mais importantes chefes de estado. Eu, a prima portuguesa do Papa, a ser filmada por todas as televisões. Na volta, no regresso a Portugal até seria condecorada pelo Sampaio...

Pois, minha fióta, amor da minh'alma, tudo ruiu como um castelo de cartas. O stronzo do Giacomo, meses antes a morte de Wojtyla, apaixonou-se por uma chinesa 39 anos mais nova que ele. Casou, dá aulas na Universidade de Milano. E a mim, pobre coitada, resta-me dizer:

Fra Bonifacio, Requiscat in Pace!
Giacomo, Quid Deus od Viagram te donem vigoris necessarius per recuperaribus tempus perdidus!


E por hoje é tudo, minha querida.
Recebe um beijo carinhoso desta tua mom (que nasceu para não ter sorte na vida)

Titas

14 fevereiro 2006 

Raríssimas no Estádio da Luz a 12 de Fevereiro.
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