09 abril 2006 
























Meu querido A.,

Volta e meia dou-me ao luxo de desaparecer, passando algum tempo a lamber as minhas feridas.
É evidente que uma delas tem o teu nome.

Fui despertada por uma meia dúzia de palavras que a R. me enviou:

"E tu!? Que se passa? Foi a saúde, os filhotes... que se passa? Por vezes acho que detestas voltar... Tens mesmo é vontade de ficar longe... vejo-te regressar sempre triste... !"

Eu? Que se passa comigo?
A saúde?
A minha saúde?
A minha saúde é uma merda, amigo!

Poderá até parecer uma blasfémia dizer isto. E logo a ti! Pois se é verdade que a morte é a única certeza que a vida nos dá, e não obstante a sua imprevisibilidade, a lógica dir-nos-á que, perante a tua e a minha doença, a morte, no meu caso, seria, ainda que uma consequência, um acto perfeitamente voluntário. Porque a depressão é uma doença filha da puta. Porque para além do sofrimento e da incapacidade que provoca, é uma doença incompreendida; é uma doença que não gera compreensão ou solidariedade reais. É uma doença que não é tida como doença, mas antes um "tens que reagir", "tens que ter força de vontade", "como te deixaste chegar a este ponto, logo tu?", "afinal que te falta, que mais queres?", "tens que sair dessa", "tens que...." "tens que..." TENS QUE .... a puta que os pariu! Porque se eu tivesse com que, ou como, não estaria doente, porra!

Tu desculpa este desabafo, meu querido A., (a culpa é toda da R.) e eu não estou aqui para me alongar sobre o estado da minha saúde, portanto prossigamos....

Os filhotes, perguntava a R.: os filhotes são uma preocupação constante para qualquer mãe em geral. Imagina para mim, uma mãe ultra-galinha do caraças!

"Tens mesmo é vontade de ficar longe... vejo-te regressar sempre triste..." termina a R.

Ora aqui está uma frase fodida; uma frase que não dá para enfiar no saco do que é despiciendo. Quanto ao "vejo-te regressar sempre triste", a coisa não dá para uma discussão por aí além, pois a R. não me vê quando parto. Aliás, a R., como qualquer outra pessoa, só pode ver o aspecto da bipolaridade que pretendo mostrar ou a que não consigo esconder.

Mas 'outro galo canta' quanto ao "Tens mesmo é vontade de ficar longe". Mas falar deste tema na primeira pessoa não me apetece. Ponto e basta, e agora vamos ao que realmente é importante e me levou a escrever-te: a tua saúde.

Eu sou capaz de entender a tua decisão: reflectir, metabolizar. E até a aceitaria como natural, não me apercebera eu que lançaste à mesa dados viciados. Porque me parece que a decisão está tomada: tu recusas liminarmente a cirurgia. Preocupas-te com o tratar-se de uma operação complicada, argumentas com os factores preditivos de recidiva, ocupas-te com o tratamento dos sintomas. Mas a realidade é que o que tu sentes, A., e muito forte, é MEDO.

Mas medo de quê, meu querido amigo?
Será que tens consciência de que te estás a deixar morrer?
Tens esse direito, poder-me-ás dizer. Mas, então, por que tanto medo em ser operado? Para mim, não faz sentido.

Infelizmente, disseste-me, não há possibilidade de tirar toda a massa tumoral (uma parte dela apanha o veio que separa as duas metades do cérebro). Mas sempre seria diferente ter uma coisa pequenina a outra enorme que se desenvolve todos os dias e cujas consequências são as que sabemos: ataques epiléticos, perda de visão, ouvido, coordenação motora.
Não me conformo!

Até este momento, só me tens falado de paliativos. Meu querido A., os cuidados paliativos, entendo-os como um meio para uma finitude digna, sem dor ou sofrimento. Por favor, não me fales em homeopatias num caso como o teu. "O meningioma é um tumor que surge nos vasos sanguíneos da meninge (membrana protetora do cérebro). Na maior parte dos casos, é benigno, mas quando cresce muito pode comprometer alguma área cerebral. O tratamento recomendado é a cirurgia. O uso da homeopatia não fará desaparecer o tumor. O tratamento só ajudará na melhora do bem-estar do paciente, ajudando-o a amenizar o stress" Flávio Dantas, clínico-geral e homeopata, professor da Universidade Federal de São Paulo.


Assim, meu querido A., desta vez, pronuncio, clamo, repito a expressão maldita: tens que, tens que catarsizar teu medo!
E não te podes dar ao luxo do usufruto do tempo. O tempo não corre a teu favor. Por isso pensa, reflecte, fala com quem tiveres de falar e decide. Eu estou aqui e estou à espera. Mas, por favor, não te deixes que a depressão te invada, e luta!

Um beijo
Titas

08 abril 2006 

obrigada pela visita, um beijo!

02 abril 2006 























Dia 3: Instala-se o sentimento de fraqueza e derrota.
Todos sorriem, todos tentam compreender a minha dor, todos tentam dar-me força e apoio, mas o sentimento de vulnerabilidade vai-me comendo lentamente... começo a pensar que não há nada pior do que sentir – mo – nos vulneráveis! Isso e a náusea!


Fotografias de ©corvacorax
























Porque as palavras não bastam para dizer o que sinto, o que por ti sinto;
Porque as palavras não bastam para te dizer do meu amor e carinho;
Porque as palavras não bastam para te falar do meu orgulho pelo teu talento;
Porque as palavras não bastam para te dizer o tamanho da minha esperança;
Porque as palavras não bastam para definir a felicidade que te desejo;
Porque as palavras não bastam, apenas te deixo um beijo, Tai.

01 abril 2006 

um miminho para quem por aqui passa...