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11 setembro 2006 

O Lado Fatal
























IV
O meu amado tinha coisas de menino:
dormia abraçado a mim feito criança,
gostava de doce e de ganhar camisas novas de presente.
Usava a água-de-colônia que lhe dei e ria:
"Pareço uma Paulina Bonaparte."
Olhava-me tão agradecido ao menor cuidado
como limpar seus óculos ou trazer-lhe água,
que era como se nunca tivesse tido infância.
(Gostava de rir, embora chorasse algumas vezes a meu lado).
Abria as portas grandes da varanda de nosso quarto
sobre as florestas da Gávea, e de tudo se admirava:
"Espantoso! Qual o sentido disso?"
Quando eu não estava em casa, ficava aflito:
telefonava para conferir se eu voltara ao nosso quotidiano:
"Sabendo que você está aí, meu mundo fica em ordem" .

O meu amado tinha coisas de menino:
mas seus olhos eram sábios
de entenderem quase toda a miséria deste mundo.

VI

O meu amado tinha indignações enormes:
andava de um lado para outro em minha frente:
não se conformava com os conformados, os corruptos,
os medíocres e os vendidos deste mundo.
Não se conformava com a miséria, a dominação, o desvalimento.
Não se conformava também quando não o entendiam.
Passava as mãos pelo cabelo grisalho
e ardia como um jovem de dezoito anos na sua ira:
"Tenho vocação é de terrorista".

(Eu escutava, com medo de que ele saltasse da varanda
levado pelo vendaval de seu furor de justo).

Depois ele fechava as portas de vidro sobre a noite quente,
me pegava pela mão, dizia:
"Vamos dormir".

E então era todo mel e ternura.


Lya Luft
"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem."

Muito belo.

Gostei da descrição do homem terrorista/mel, que busca conforto na mulher que ama, lembrando o colo da sua mãe.
Quanto à Lya Luft acho que faz muito bem em ficar puta da vida e que, quando se sinta assim, o seja para o homem que a tiver. Afinal, pelo menos eu, gosto de ter como companheira uma senhora que o seja em sociedade, mas que na cama seja uma mulher de entrega e que descarregue na cama a raiva de ter ficado puta da vida.
Bjokas

Hummmm, não sei não, Manel! Lê bem a forma como ela escreve!
Quando alguém está tão preocupado em não fazer determinada coisa como determinada pessoa é de ficar de pé atrás...
If you know what I mean...
Mas, são maneiras de ser.
Precisava de ler mais e saber mais da Lya Luft.Confesso que só por este bocadinho não me convenceu, ela que me desculpe.

Mas achei curiosíssimo teres posto aqui estes dois textos, Titas :-)
Confesso que gostei particularmente do primeiro.
Lembrou-me alguém.
Gostei imenso que me tivesses feito lembrar dele, desta forma.
Logo hoje, um dia tão especial para ele... e... para ela!

Só tu!
Bigada!

Beijo na ponta do teu nariz

Poema de uma delicadeza e ternura eslumbrantes

ei, meu nome é fernanda, sou apaixonada pela lya luft,
estava procurando esse livro pra postar em meu blog e achei o seu.
Que bom existirem pessoas que gostam de poesia!!!

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