
As minhas idiossincrasias.
Hoje deu-me para pensar nelas. Poderia ter dado para pior.
Como nem a mais pequena dúvida tenho do quanto elas vos interessam, queridos meus, resolvi pensar em voz alta.
O meu estado civil (vejo agora a razão da minha auto-análise idiossincrásica: tive que o escrever hoje num documento). Viúva...passei anos sem conseguir dizer ou escrever esta palavra. Hoje, em tentativa de desmame das drogas duras em que o meu psiquiatra me meteu, já consigo dizê-lo. Mas é uma palavra que detesto. Não pelo seu significado de perda, que entretanto foi substituído por uma terna e tranquila saudade, mas pela carga negativa que encontro nessa palavra. Há tantas anedotas sobre viúvas.... será por isso?
Enfim, uma barreira a transpor, pois não existem alternativas. Solteira?... fui; Divorciada?... teria que me casar primeiro; Casada? .... fosga-se!!! ... Unida de facto?... para isso seria preciso viver junto...fosga-se!!!!
A minha idade. Por ora, não me aflige. Mas quando fizer 60 anos? Não quero fazer 60 anos! Recuso-me a perder a minha identidade.
Senão vejamos:
Se acaso fosse atropelada hoje, o jornal de amanhã traria uma notícia do género: "Senhora (ou T.M.) foi atropelada quando seguia para o CCB. Crê-se que condutor se distraíu a olhar para as suas bem torneadas pernas ou então para a sua franja loura provocantemente contrastante com seu cabelo ruivo. Com algumas escoriações, T. foi assistida no Hospital e regressou imediatamente a casa.
Se acaso for atropelada já com os 60, a notícia rezará: "Sexagenária atropelada, quando se dirigia ao CCB, foi levada para o Hospital contusa. Já lhe foi dada alta".
Estão a ver o meu ponto de vista? Bom, e isto para já não falar da série de velhinhos que começariam a lançar-se furiosamente contra os carros, esperançosos em igual consequência...
Os cônjuges dos meus filhos. Obviamente tratam-me por tia... ou titas. Estão bem avisados. Nem sujeitos às maiores torturas me podem chamar por essa coisa odiosa, malvada... sim, esse nome de carga tão negativa que nem me atrevo a reproduzi-la.
Os filhos dos meus filhos. O Tomás, o Gonçalo, a Mariana, a Sofia, o Tiago. São os meus meninos d'ouro. A causa por que tenho a casa semi-destruída (com a ajuda dos cães, verdade seja dita); a causa por que não há Spirits, Lelos, Scobidoos e todos os outros que eu não conheça de cor, porque "ó Titas ainda só vimos este 2 vezes..."; a causa por que trabalho tanto, pois não resisto àquelas roupas lindas..., àqueles ténis de encantar... para já não falar das colecções de cromos, cujas caixas completas custam 23 euros cada....; a causa que me leva a gritar apavorada na montanha russa e em todas aquelas máquinas de tortura.
Obviamente tratam-me por Titas. E por que não Avó? Avó não é estado civil, é estado de graça; não é sinónimo de perda de identidade; não é palavra odiosa, muito pelo contrário. Então porquê Titas? perguntam vocês (os sobreviventes que estoicamente conseguiram chegar até aqui).
Irra, que são burros, porra! Porque sou namoradeira e porque há coisas que não se fazem a uma Avózinha.
Prontos, desabafei.