O 25 de Abril e eu

O espírito revolucionário fervia-nos no sangue.

Eramos 4; dois casais. O primeiro era formado pelo Dário(testemunha de Jeová, e com um ligeiro atraso, mas comunista, pois "se a doutora é comunista, eu também sou" e a Isabel, a minha querida amiga. O segundo, eu...novita e bonitona e o Ti Jacinto, o carpinteiro da empresa. Pequenino, com os seus 70 anos, 10 dos quais passados nas prisões políticas.

Estávamos a acabar a ronda, eram 3,30 da manhã, faltava-nos o último quartel. O sono e o cansaço amoleceu nosso sentido do dever. Ficámos as duas no carro e os homens lá foram fazer o giro. Passaram 15 minutos, preocupação; meia hora... pânico. Surgiram os dois, brancos como a cal. Titas arranca.... foge!
Quilómetros passados e fôlego retomado, contaram sua odisseia.
Contou o Dário (ah, é verdade, ele também era gago): Deu uma dor de barriga ao Ti'Jacinto. Atão eu disse-lhe: "Caga ali, ao fundo desta vereda. Enquanto eu esperava, apareceu um soldado, apontou-me a G3 e eu disse logo: Estou à espera do meu colega...que foi ali cagar". O soldado ordenou: "Onde? À minha frente, já!". Encontrámos o Ti'Jacinto (prosseguia o Dário) o soldado berrou: "Assassinos, onde está a bomba"? "A bomba? eu só vim cagar"gaguejou o Ti'Jaquim. "Bombistas, eu mato-vos!" e procurou a bomba com a mão. Encontrou-a. "Porra, que é mesmo merda! Mas que caralh***.... então você vem cagar à porta da messe dos oficiais?" e virando-se para o Dário: "Segure-me aqui na G3 enquanto eu vou lavar as mãos!".
