Vezes a fio passava por Zaragoza. Ela lá, eu na autoestrada. "É em Zaragoza que está a Virgem Negra del Pilar" e engolia-se quilómetros, pois a meta estava bem definida: local X, hora Y, média quilométrica Z. É sina nossa, a das mulheres que viajam com um homem ao volante...
Mais uma outra vez, o mesmo comentário "é aqui em Zaragoza que está a"... "e se tu metesses a Virgem no cu?" Travagem relinchante, guinada à direita, eis-me em plena Basílica. Bonita, enorme, um verdadeiro Santuário. Não me detive na paisagem e arquitectura. Eu queria mesmo era a Virgem! Duas voltas à Basílica. Era Domingo. Havia casamentos, baptizados, turistas em barda. Três voltas à Basílica. "Mas onde está a Virgem?" "Não sei, já não me lembro". Engoli a resposta, estava numa Basílica, bolas, e mesmo que graças a Deus seja ateia, o respeitinho é bonito e fica bem.
Eureka! Uma porta assinalava: Museo de la Virgen Negra del Pilar. Um guarda à porta travou-me com um imperativo " cerra'o para almuerzo". Pois é, o cabrão do Museu abria "a las cinco en punto de la tarde". Eram duas e meia. Gesticulei o mais que pude: "adonde esta la 'Virgrren Negra?" É dos livros: "non entiendo". Redobrei meu gesticular: "mira, aqui... Basilica de la 'Virgrren' Negra del Pilar, 'berdá'?
"Per supuesto!" "Entonces, coño, la 'Virgrren' Negra ... adonde está?" "Ah, Virgrren Negra...Cataluña, Badcelona".
Uma voz, ao meu lado, suspirava gemidos "Tenho fome, vamos almoçar". Pois, só que a titas maria, quando quer, tem! Desatei a escutar conversas, encontrei um casal de indígenas. Azar, andavam há mais de meia hora à procura da Virgem. Desesperada, olhei para os confessionários,mas todos os padres tinham clientes. Uma voz, já impaciente, quase ordenou: "vamos embora!"; "Vai tu! Eu daqui não saio sem ver a p... da Virgem". A minha blasfémia levou a três Pais Nossos e a repetidos "perdoai-lhe Senhor, que não sabe o que diz" e 20 euros (arrancados da minha mochila) foram depositados na caixa das esmolas.
Radiante, aproximou-se o par de indígenas. Tinham descoberto a Virgem Negra!
Uma enorme meia lua de flores e velas circundava uma espécie de cone de cetim vermelho bordado a ouro, coroado por um radiante sol, em cujo núcleo se esboçava uma pequenina mancha negra. 'Óquei', vejo mal ao longe, mas nada que uma ida a uma loja de "recuerdos" não resolvesse. Compraria uma réplica da imagem, uma brochura que me contasse a história desta pequenina Virgem Negra que um Santuário merecera. Tudo fechado. Tudo abriria "a las cinco en punto de la tarde".
Duvidando embora que alguém me tenha lido até ao fim, deixo o apelo: se souberem a história da Virgem Negra del Pilar, por favor, contem-ma.
'Agardecida'